Mapa demonstra que centro tem distritos mais acessíveis de SP

Estudo da USP utilizou sete bases de dados para montar ranking de mobilidade. Avaliou-se nos bairros a topografia, mobilidade e acessos internos das edificações

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: Jairo Marques e Fábio Takahashi  |  Postado em: 25 de junho de 2018

Acessibilidade prejudicada na zona norte (Jardim S

Acessibilidade prejudicada na zona norte (Jardim São Paulo)

créditos: Marcos de Sousa/ Mobilize

 

Utilizando sete bases de dados, pesquisadores da USP conseguiram desenhar um inédito mapa que detalha condições de acessibilidade em São Paulo. No centro expandido da capital é possível se deslocar e transitar com mais facilidade para todos os públicos. 

 

A ferramenta tem como pilares três elementos: a topografia dos bairros, que mostra índices de declividade dos terrenos; a mobilidade, que permite o deslocamento de um ponto para outro; e o meio físico, que aponta condições de acessos internos de prédios e estabelecimentos.

 

Com base nos dados, os pesquisadores geraram notas de 0 a 10 para cada um dos 96 distritos paulistanos.

 

O desempenho médio das localidades foi melhor em relação à topografia —a capital está localizada em área de planalto— e o pior foi em relação à distância a ser percorrida pelos usuários até chegar ao transporte público.

 

O estudo foi realizado por um grupo de pós-graduação liderado por João Marcos Barguil, doutorando em ciência da computação, e Fabio Kon, professor de ciência da computação, ambos do projeto InterSCity do IME-USP, com financiamento da Fapesp

 

 “Nosso objetivo foi criar uma métrica para análise quantitativa da acessibilidade em São Paulo. Não basta dizer que A é melhor que B, gostaríamos de saber quanto A era melhor que B, e o porquê”, afirma João Marcos.

 

O Brás, na zona central, ficou com nota dez pelas condições de terreno. O bairro tem poucos desníveis e é amigável para deslocamentos a pé. Também tiveram notas altas pelo terreno pouco acidentado: Bom Retiro, Pari, Santa Cecília e o Belém.

 

Parte dessas regiões recebeu do poder público, nos últimos anos, melhorias de calçamento e construção de rampas. Esses dois pontos, porém, ficaram fora do mapa por não terem bases de dados confiáveis ou com tamanho suficiente para constar na ferramenta.

 

Áreas periféricas da capital ficaram com as notas mais baixas. Marsilac, no extremo sul, ficou com zero, já Tremembé, na zona norte, ganhou 0,39 pelas condições topográficas.

 

“Um mapa é excelente porque vai expor o tamanho do problema e quanta negligência existe quando se fala em acessibilidade, sobretudo em áreas periféricas”, diz Valmir de Souza, diretor de operações da Biomob Soluções Inovadoras em Acessibilidade.

 

“É interessante que se avance também para dados que indiquem a qualidade das calçadas, a presença ou não de rampas, para ter um diagnóstico mais completo”, afirma.

 

No ranking geral, envolvendo todos os critérios tabulados pelos pesquisadores, o Brás também ficou em primeiro lugar, à frente da República e da Sé, todos no centro. O distrito, porém, enfrenta desafios complexos para tornar possível um ir e vir confortável para todos.

 

“O Brás é um ponto de fortíssimo comércio da cidade e isso impacta na acessibilidade. A ocupação de calçada por ambulantes nessa região é muito grande. As travessias de rua também são problemáticas. É complicado ver o bairro em um topo de ranking”, declarou Valmir.

 

Os piores locais apontados pelo mapa da USP levando em conta todas as bases de dados foram Cachoeirinha (zona norte), José Bonifácio e Iguatemi, ambos na zona leste. 

 

O mapa também permite ao usuário elencar um ranking específico para cada critério, como qual local tem mais vagas reservadas na rua a idosos ou pessoas com deficiência.

 

Um ponto frágil da ferramenta é o ranking dos distritos com mais estabelecimentos com acessibilidade, que botou no topo a Vila Sônia, na zona oeste, seguida do Carrão, na zona leste.

 

Uma das bases de dados usadas para isso foi um selo de acessibilidade fornecido pela prefeitura a locais que se esmeram em melhorar suas condições arquitetônicas. O problema é que nem 10% dos estabelecimentos da cidade foram contemplados ou tiveram interesse pelo selo.

 

A outra base foi uma ferramenta eletrônica em que os usuários avaliam as condições de acesso dos locais, o que abre margem para subjetividade e não necessariamente atendimento das normas técnicas de acesso.

 

“O ideal seria saber exatamente o nível de acessibilidade de todos os prédios e estabelecimentos da cidade, mas não temos essa fonte. O fator limitante foi a qualidade e a quantidade dos dados à disposição”, diz João Marcos.

 

Estudo mostra o nível de acessibilidade por região em São Paulo

Cada distrito recebeu uma nota de 0 a 10 em cinco indicadores; as periferias tiveram os piores índices

 

1. Topografia

Considera regiões planas e declives em cada região do distrito

- O Brás é a área menos acidentada

- Anhanguera, Brasilândia, Tremembé e Marsilac são as mais acidentadas

 

2. Ônibus acessíveis

Considera o percentual de ônibus acessíveis nas linhas que cruzam o distrito

- Centro expandido tem as melhores notas; prefeitura diz que 97% da frota de SP tem acessibilidade

 

3. Distância até o transporte

Considera o deslocamento médio até as estações de metrô e trem</p>

- Metade dos distritos teve índice pior que 1

 

4. Vagas de estacionamento

Considera vagas de rua para idosos e cadeirantes em relação à área do distrito

- Dois terços das regiões não têm nenhuma vaga exclusiva

 

5. Estabelecimentos acessíveis

Considera locais que têm o Selo de Acessibilidade, emitido pela prefeitura</p>

- Zonas leste e sul têm as piores notas

 

Quem pode ser prejudicado pela falta de acessibilidade

- 674 mil pessoas com deficiência motora vivem em São Paulo (2010)

- 50% dos moradores da cidade têm excesso de peso (2015)

- 20% da população paulistana será idosa em 2030

- 577 mil bebês (portanto crianças de colo) nasceram no município entre jan.15 e dez.17

 

Fonte: Estudo realizado em dez bases de dados em jan. e fev. 2018, por grupo de alunos de pós-graduação liderado por João Marcos Barguil e Fabio Kon, ambos do projeto InterSCity do IME-USP, financiado pela Fapesp.

 

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