Bombardier não entrega relatório prometido sobre monotrilho de SP*

Metrô prometia divulgar ontem (11) relatório da Bombardier sobre problemas na Linha 15 Prata. Não há prazo, nem explicações para as falhas

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Fonte: Mobilize Brasil/RBA/MetrôSP  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 12 de março de 2020

Pátio do Monotrilho Linha 15 Prata

Pátio do Monotrilho Linha 15 Prata

créditos: Governo de São Paulo


A Secretaria dos Transportes Metropolitanos e o Metrô/SP divulgaram ontem (11) uma nota sobre as análises que estão sendo realizadas pela empresa canadense Bombardier a partir do acidente e da paralisação da linha do monotrilho que atende a região leste de São Paulo. Na mensagem enviada à imprensa previa-se para ontem (11) a entrega do relatório da Bombardier, o que não aconteceu. Não há, ainda, explicações sobre os problemas que afetam a linha, a primeira em monotrilho no país. Um grupo de trabalho criado pela Companhia do Metrô prepara outro relatório, que deve ser entregue até maio.

"Nota sobre o monotrilho da Linha 15-Prata
A Bombardier se comprometeu a apresentar nesta quarta-feira, 11, os resultados das análises feitas nos pneus e trens do monotrilho da Linha 15-Prata, após realizar testes dinâmicos complementares nesta madrugada.

O Governo do Estado segue cobrando urgência na apuração e resolução do problema para que a linha volte a atender os passageiros com todas garantias de seu funcionamento adequado.

Enquanto a linha permanece fechada, o sistema Paese é disponibilizado pelo Metrô gratuitamente, realizando o trajeto de São Mateus a Vila Prudente (nos dois sentidos), das 4h40 à 0h. São 60 ônibus articulados, com capacidade de atendimento similar aos 12 trens que atendiam na Linha 15."

 

Linha segue paralisada pelo 13º dia
Segundo um funcionário do Metrô que preferiu manter o anonimato, a linha do monotrilho deve seguir parada pelo menos por mais uma semana. O funcionário da Linha 15 entrevistado pela agência RBA explicou que os técnicos da Bombardier estão verificando os pneus de todas as 23 composições que operam na linha. Depois disso, o sistema deve operar com restrições por tempo indeterminado.

Somente os técnicos da Bombardier podem participar da inspeção dos trens, sem a presença de trabalhadores do Metrô, que são impedidos na área de testes. Para se aproximar do local é preciso solicitar uma autorização do Centro de Controle Operacional (CCO) e um supervisor acompanha o profissional até o local, onde também é impedido uso de celular ou qualquer outra tecnologia que possa registrar o trabalho que está sendo realizado.

Os pneus são um projeto específico da Bombardier e deveriam durar aproximadamente 100 mil km. Segundo o Metrô, pneus de outras composições também apresentaram desgaste prematuro. Inicialmente, o Metrô descartou que um problema na via tivesse levado ao estouro dos pneus, considerando-se que houve um defeito no sistema runflat, equipamento permite a rodagem por uma certa distância mesmo com o pneu rompido. Um pedaço desse equipamento foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. 

Ainda segundo o entrevistado, agora a equipe de técnicos avalia se o desgaste estaria relacionado à sinuosidade e excesso de subidas e descidas no trecho da estação São Mateus, o que estaria acelerando o desgaste dos pneus. Com a expansão da linha no último ano, a carga sobre os trens aumentou muito e pode ter levado ao problema.

 

CPI, Ministério Público e Tribunal de Contas
Os problemas com a Linha 15 Prata geraram reações do Legislativo e dos órgãos de controle. Há um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa de São Paulo, para apurar os riscos à população e as responsabilidades pelos constantes problemas no monotrilho, construído pelo Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, além da fabricante canadense de trens Bombardier. Parlamentares também fizeram uma representação no Ministério Público Estadual.
 

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo determinou uma fiscalização na Linha 15-Prata. O conselheiro Renato Martins Costa defendeu que a situação “aponta para eventual deficiência na manutenção dos trens ou na reposição das peças necessárias”. O conselheiro quer saber qual a real condição do Monotrilho, o prejuízo à população e que solução que está sendo proposta.
 

O governo Doria anunciou que vai processar o consórcio e avalia um prejuízo de R$ 1 milhão por dia com a paralisação do monotrilho do Metrô. “O governo do estado tem estudado todas as possibilidades das punições que ocorrerão. Diariamente, nós temos um prejuízo na ordem de R$ 1 milhão, que será sim cobrado do consórcio e da Bombardier, assim que for declarada a responsabilidade desse problema e eles vão ser acionados sim na Justiça para que possam ressarcir todos os prejuízos”, declarou o secretário de Transportes Metropolitanos Alexandre Baldy.


Problemas desde 2014
O sistema monotrilho foi adotado na Linha 15-Prata por ser considerado de construção mais simples e econômica do que um metrô convencional. Mas a obra já acumula atraso de oito anos na conclusão do trecho até São Mateus e ficou quase R$ 5 bilhões mais cara do que o previsto. Em operação desde 2014, a linha sofre falhas cotidianas, Problemas de sinalização são frequentes e provocam redução de velocidade repetidamente. 

Em 29 de janeiro de 2019, as composições M22 e M23 se chocaram na estação Jardim Planalto e o acidente não foi pior porque o operador percebeu a falha no sistema automático e acionou o freio de emergência. À época, foram constatados problemas no CBTC, sistema adquirido por um R$ 1 bilhão pelo governo paulista, mas que ainda apresenta muitas falhas e inconsistências.

Operação comissionada
Para o engenheiro e especialista em transportes Jean Carlos Pejo, as falhas são inexplicáveis, porque a Companhia do Metrô sempre trabalhou com muito rigor em seus projetos, na manutenção e na operação das linhas. "Todos sabemos que o sistema de monotrilho não tem a capacidade de um metrô. É um sistema de média capacidade, comparável a um VLT com via segregada, sem interrupção nos cruzamentos. Mas eu quero crer que o dimensionamento da Linha 15 tenha sido bem estudado, e acho que foi", declarou, em entrevista por telefone ao Mobilize.


Ele acredita que por ser uma novidade, sem nenhuma experiência na América Latina, o monotrilho deveria ter tido um longo período de operação assistida para avaliação do sistema, antes da abertura à operação comercial. "Se não tenho experiência, não é feio ficar um ano em testes", explica. Pejo sugere, ainda, que após as análises da Bombardier, a linha não seja aberta apressadamente ao público e que passe por um período mais longo de avaliação.

Grupo de trabalho
A agência RBA anunciou hoje que o presidente do Metrô, Silvani Pereira, criou um grupo de trabalho com chefes dos setores como manutenção e operação para acompanhar durante 30 dias, avaliar e registrar os trabalhos desenvolvidos pela fabricante de trens Bombardier, na tentativa de descobrir o que provocou o estouro de cinco pneus da composição M20 no dia 27 de fevereiro. O grupo deverá apresentar um relatório com as conclusões da investigação sobre o problema, até o dia 5 de maio.

* Edição atualizada em 12 de março


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