Grupo pesquisa o cicloturismo e quer difundir a modalidade no Brasil

Pesquisadores do BikeTour (UFSC) estudam formas de promover a cultura da bicicleta tanto no turismo rural e unidades de conservação de Santa Catarina como no meio urbano

Notícias
 

Fonte: Notícias da UFSC  |  Autor: Daniela Caniçali/ Agecom UFSC  |  Postado em: 28 de março de 2024

Ciclistas na Praia da Pinheira, na Rota da Baleia

Ciclistas na Praia da Pinheira (SC): Rota da Baleia Franca

créditos: ©Jonatha Junge

Na mobilidade urbana, e também no cicloturismo, a bicicleta é cada vez mais abraçada pela sociedade como um modo de transporte capaz de tornar a vida mais saudável e uma opção ao uso do automóvel tanto no dia a dia como, em muitos casos, nas viagens de lazer. É o que aponta a reportagem reproduzida pelo Mobilize a seguir, da jornalista Daniela Caniçali, no site da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E é como diz o professor Marcos Bosquetti, líder do grupo BikeTour, entrevistado na matéria: "(...) Aos poucos, a ciclomobilidade vem conquistando espaço, respeito e o reconhecimento da população de que a bicicleta é um meio de transporte ativo e sustentável que proporciona inúmeros benefícios para a mobilidade na ilha [Florianópolis] e para a sociedade como um todo.”

 

O Grupo de Pesquisa BikeTour Cicloturismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o emergente tema de pesquisa e contribuir para o desenvolvimento da ciclomobilidade no Brasil, especialmente em Santa Catarina. Criado em 2022, é o único grupo de pesquisa focado no cicloturismo (urbano, rural e em unidades de conservação) e o primeiro na região sul do país.

 

De acordo com o professor Marcos Bosquetti, do Departamento de Ciências da Administração da UFSC e líder do grupo, “o cicloturismo é um indutor do desenvolvimento territorial sustentável e uma alternativa ao modelo dominante de turismo de massa com seus impactos negativos no meio ambiente e na sociedade. Trata-se de um segmento do turismo sustentável. Isto, por si só, já justifica desenvolver pesquisa sobre cicloturismo. Além do mais, o Brasil, apesar do seu considerável potencial para o cicloturismo, ainda carece de estudos e propostas para alavancar este segmento bastante promissor para o país.” 

 

Segundo o professor, na Europa o cicloturismo gera 520 mil empregos e movimenta 45 bilhões de euros por ano. Os países da comunidade europeia estão interligados pela EuroVelo, uma rede de ciclovias/rotas de longa distância (equivalente a uma highway para bicicletas) com mais de 90 mil km de extensão, sem considerar as ciclovias urbanas e as rotas e circuitos de cicloturismo de cada país. No Brasil, que é quase do tamanho da Europa, o cicloturismo não possui 5% desses números.

 

Embora recente, o grupo Biketour tem um projeto de extensão voltado para promover a cultura da bicicleta e a ciclomobilidade na Universidade e na Grande Florianópolis. Também participou das iniciativas do MobiliCampus, da União dos Ciclistas do Brasil, da AmoBici Floripa e do Projeto Campus-Parque-Cidade UFSC. O BikeTour também representa a UFSC nas comunidades internacionais Mobility-Week, Sport & Development, Vélo & Territoires e Eco-Cicle Community.

 

Cicloturismo e unidades de conservação

Entre as publicações do grupo, destaca-se o artigo “Cicloturismo em unidades de conservação: o caso de sucesso Rota da Baleia Franca (SC)”, publicado na Revista de Turismo Contemporâneo. É o primeiro estudo a relacionar cicloturismo e unidades de conservação. 

 

Ao analisar o Programa de Cicloturismo Rota da Baleia Franca, os pesquisadores destacaram uma série de contribuições da iniciativa: a geração de receita, na baixa temporada, para os pequenos negócios nos setores de hospedagem, alimentação e artesanato, contribuindo para a superação dos desafios  da sazonalidade turística no litoral; a promoção da APA da Baleia Franca no país e no exterior, posicionando-a, inclusive, como uma referência internacional em destinos de cicloturismo no Brasil; a ampliação do  portfólio  de atrações turísticas divulgado pelos municípios da APA e pela Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur); a atração de turistas com interesse nas iniciativas locais de agroecologia, preservação e educação ambiental; e a promoção e valorização do patrimônio ambiental e cultural do território.

 

“Por fim, os resultados deste estudo de caso apontam que a oferta de roteiros de cicloturismo em UCs tem o potencial de alavancar três movimentos relevantes para a sociedade: o uso da bicicleta, o uso público de UCs e o desenvolvimento do turismo sustentável”, afirmam os autores. 

 

Atualmente o grupo está trabalhando na publicação do livro Desenvolvimento do Cicloturismo: lições da Europa ‘tropicalizadas’ para o Brasil, compartilhando os resultados de uma pesquisa de campo realizada em 17 países do continente europeu.

 

Slow Cities

Vários motivos levaram o professor Bosquetti a se interessar pelo tema da pesquisa: o potencial do cicloturismo no Brasil; a importância de inserir a Universidade no processo de estudar e planejar o desenvolvimento deste segmento do turismo sustentável; e sua própria experiência com cicloviagens pelo sul do Brasil e no exterior.

 

“Eu já fiz viagens de turismo utilizando carro, moto, bicicleta e até veleiro oceânico, mas o ritmo contemplativo da bicicleta proporciona ao ciclista a oportunidade de desfrutar da viagem tanto quanto do destino e promove maior conexão com a natureza e com a comunidade local”, avalia. Segundo o professor, o cicloturismo está alinhado com a filosofia slow nascida na Itália, cujo propósito é reduzir o ritmo da vida nas cidades (movimento slow cities), oferecer uma alternativa ao fast food (movimento slow food) e proporcionar um estilo de turismo que prioriza a qualidade da experiência turística (movimento slow travel).

 

Na UFSC, há professores e estudantes interessados no tema, que integram o projeto de extensão voltado para promover a cultura da bicicleta na Universidade. O grupo também trabalha de forma colaborativa com o projeto Campus-Parque-Cidade, do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano (Gipedu), coordenado pelo professor Francisco Carneiro Ferreira, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. 

 

Turismo de bike na Ilha das Campanhas, Florianópolis Foto: Reprodução/ Destinos Turísticos

 

Pioneiros e rede colaborativa

Na plataforma CNPq dos Grupos de Pesquisa há apenas dois voltados para o cicloturismo: o  pioneiro no Brasil Experiências em Turismo e Transporte Ativo, da Universidade Federal Fluminense (ETTA/UFF), em Niterói (RJ), e o BikeTour da UFSC. Há ainda o Instituto Planett – Planejamento de Turismo e Transportes, localizado no Rio de Janeiro (RJ), que tem como escopo vários temas, incluindo o cicloturismo, mas não está diretamente vinculado a uma universidade. 

 

Os grupos trabalham de forma integrada. A professora Priscila Edra, fundadora do ETTA, e Luiz Saldanha, diretor do Planett, fazem parte do BikeTour UFSC. “No início de 2023, eu passei a integrar o Grupo ETTA e colaboro com o Planett como membro da comissão organizadora da ConVale – Conferência de Cicloturismo no Vale Europeu. Também fazemos parte do Comitê Científico do Encontro para o Desenvolvimento do Cicloturismo (EDESC), o único evento anual sobre cicloturismo. Está na sua 4ª edição e foi criado pela professora Edra e o Saldanha.”

 

No BikeTour também há integrantes que coordenam projetos de extensão promovendo o uso da bicicleta para qualidade de vida e mobilidade urbana, como o Programa CicloVida, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e o Programa Pedagogia Urbana, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB.) Em Florianópolis, o BikeTour também conta com a colaboração do professor Tiago Savi Mondo, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que pesquisa marketing de destinos turísticos. “Nós estamos iniciando a construção de uma rede colaborativa de pesquisa voltada para o  desenvolvimento do cicloturismo no Brasil”, destaca Bosquetti. 

 

Santa Catarina 

Bosquetti aponta que Santa Catarina é um dos estados mais promissores para o desenvolvimento do cicloturismo. “Nosso estado abriga o primeiro circuito oficial de cicloturismo do Brasil, o Circuito de Cicloturismo Vale Europeu. O clima temperado é propício para o uso da bicicleta nas quatro estações do ano, as paisagens exuberantes do litoral e da serra catarinense, bem como sua cultura e gastronomia atraem cicloturistas de várias regiões do país e do exterior.”

 

Florianópolis também tem potencial enorme para o cicloturismo urbano. Bosquetti destaca que descobrir os encantos da ilha de carro pode ser rápido demais e muitas vezes lento demais devido ao congestionamento do trânsito. Por outro lado, percorrer os trechos a pé demandaria muito tempo. 

 

“Nos últimos anos a malha cicloviária de Floripa tem se expandido de forma significativa, mas ainda existe um longo percurso até tornar Florianópolis uma cidade totalmente ciclável. Mas é preciso reconhecer que, aos poucos, a ciclomobilidade vem conquistando espaço, respeito e o reconhecimento da população de que a bicicleta é um meio de transporte ativo e sustentável que proporciona inúmeros benefícios para a mobilidade na ilha e para a sociedade como um todo.”

 

O problema da capital catarinense também é enfrentado no país inteiro. “O principal desafio para o cicloturismo em Florianópolis, e no Brasil como um todo, ainda está relacionado à falta de uma infraestrutura adequada para a ciclomobilidade urbana, que proporcione mais segurança para os ciclistas, como ciclovias, ciclofaixas, sinalização e a educação no trânsito, tanto por parte dos motoristas como dos ciclistas e pedestres.”


E agora, que tal apoiar o Mobilize Brasil? 

 

 

Leia também:
Movimento pede ciclovia na rodovia BR 280, em Santa Catarina
Itaipu fecha parceria para construção de ciclovia de 4,4 km em Maringá
Festival Ciclo Voador ocupa as ruas do Recife no dia 4 de maio
Ciclovia de Arapiraca (AL) ganha prêmio internacional de mobilidade
Barcelona: mobilidade sustentável cresceu em 2023

 


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário