Brasília para pessoas

Caminhar e andar de bicicleta em Brasília é coisa para valentes. Paulinha Pedestre e Uirá Lourenço lançam blog para remexer o cenário da mobilidade urbana no Planalto

Notícias
 

Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Da Redação Mobilize Brasil  |  Postado em: 18 de fevereiro de 2016

Brasília para pessoas

Paulinha e Uirá: em Brasília sem carro

créditos: Arquivo Seminário Cidades a Pé


Estamos lançando o blog Brasília para Pessoas, com textos de Ana Paula Borba - a Paulinha Pedestre - e Uirá Lourenço sobre as mudanças na mobilidade urbana que ainda desafiam a capital do Brasil. 

Paulinha e Uirá são ativistas e estudiosos do tema, em especial dos problemas enfrentados cotidianamente pelas pessoas que optam por pedalar ou caminhar no Distrito Federal. Os dois blogueiros colaboram há muitos anos com o Mobilize, além de escrever para jornais e revistas de todo o país. Ambos organizam em Brasília o evento Jane’s Walk, uma atividade para estimular a melhoria da caminhabilidade na cidade. 

Nesta rápida entrevista (por email) eles explicam porque criaram o "Brasília para Pessoas" e resumem suas visões sobre a Capital Federal de hoje e no futuro.

 

Por que o blog Brasília para Pessoas?

Uirá Lourenço responde: A ideia do blog surgiu da necessidade de repensar o espaço da capital federal, cada vez mais voltado aos carros. Uma imagem aérea da região central de Brasília revela uma imensidão de vias e áreas ocupadas por carros em circulação e estacionados.

Gradativamente surgem ainda mais vias e mais estacionamentos, formais e informais. Áreas verdes, canteiros e até calçadas, ciclovias e quadras de esporte são convertidos em estacionamentos, numa demonstração clara do atraso na visão de mobilidade urbana e de uso do espaço público em plena capital federal.

Acreditamos que se pode melhorar muito a mobilidade em Brasília. E o blog surge com a proposta de provocar reflexão sobre a cidade e também para trazer um painel de boas experiências adotadas em outras cidades do país e do exterior. Assim, busca-se revelar o atraso nas políticas rodoviaristas ainda vigentes e também apresentar boas soluções, alternativas ao caos automotivo.    

 

Então, Lúcio Costa, o grande urbanista que desenhou o Plano Piloto de Brasília, ainda nos anos 1950, teria errado?

Paulinha Pedestre: Errar e acertar me parece algo muito maniqueísta. Acredito que quando Brasília foi idealizada, as pessoas, entre elas os arquitetos urbanistas, acreditavam numa solução para os problemas da época. Prefiro pensar que hoje Brasília não se encaixa no modelo de cidade que buscamos, uma cidade para pessoas.

 

Brasília funciona sem carro?

Uirá: O transporte coletivo – em especial por ônibus – é reconhecidamente ruim: caro e desconfortável. E nos finais de semana os ônibus somem, mesmo nas principais vias. Pontos de ônibus sem abrigo, com espaço insuficiente e sem condições mínimas de acessibilidade fazem parte da triste realidade. Dessa forma se incentiva ainda mais a dependência automotiva.

 

Brasília funciona de bike?

Uirá: Na área central de Brasília e em muitas das chamadas “cidades-satélites” é bastante viável o transporte por bicicleta. Aliás, em locais como Vila Estrutural, Paranoá, Itapoã e Recanto das Emas se usa muito a bicicleta como meio de transporte. Na área central, no Plano Piloto, o uso ainda é significativamente baixo, mas com grande potencial de crescimento se houvesse política séria de mobilidade que não se restringisse à mera construção de ciclovias. Com uma política integrada de melhoria do transporte coletivo, cobrança das vagas públicas de estacionamento (“zona azul”), continuidade de calçadas e ciclovias e redução dos limites de velocidade, certamente se veriam muito mais pedestres e ciclistas.  

 

Brasília funciona a pé?
Uirá: Vale a resposta anterior, com mais alguns comentários. A arborização no Plano Piloto favorece as caminhadas, mas as longas distâncias dificultam o caminhar como meio exclusivo de transporte. Para os trajetos cotidianos e integrados ao transporte coletivo há os obstáculos usuais – carros sobre calçadas e rampas – e a precariedade na infraestrutura. Muitas vezes sequer há calçada no caminho. Ou as calçadas estão em estado deplorável. Não à toa, as novas ciclovias atendem não apenas aos ciclistas, mas principalmente aos que caminham e correm pela cidade, carentes de espaços adequados.

Paulinha: Eu apenas complementaria a resposta do Uirá, reiterando o papel do Eixão como o elemento mais segregador da cidade (um muro invisível), o que impede o livre deslocamento de pedestres na direção Leste-Oeste.

Uirá: Muito bem lembrado! Um muro divisor ao longo de toda a cidade. Muro invisível para quem passa a 80 km/h ou mais, em veículo com motor, mas bastante visível para quem passa (ou desejaria passar) na cadência tranquila da caminhada ou pedalada.


Leia os primeiros posts do Brasília para Pessoas:



Leia também:
Ciclofaixas em Águas Claras (DF): modernidade ou insanidade? 
Jane's Walk na capital federal: caminhada e olhar crítico sobre a cidade 
Governo federal vai liberar verba para estudos do VLT e do metrô na Asa Norte em Brasília 


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Rosana - 20 de Fevereiro de 2016 às 15:13 Positivo 0 Negativo 0

É com alegria e esperança que vejo surgir este espaço tão inteligente. Parabéns  e sucesso!

Clique aqui e deixe seu comentário