Brasilia Para Pessoas

10
setembro
Publicado por Brasília no dia 10 de setembro de 2023

Ontem fui da Asa Norte até o Noroeste. Fui com meu filho de bicicleta, pois ele ia encontrar uns amigos. Os bairros ficam próximos, a uma distância perfeitamente caminhável e pedalável. Mas as barreiras são consideráveis.

Na ida, à tarde, pegamos um atalho. Passamos por dentro do parque Burle Marx. Trajeto curto (2,3 km), mas bem deserto e com trechos de areia.

Na volta, à noite, decidimos não passar por dentro do parque em razão da escuridão e da insegurança. Pegamos a ciclovia na avenida principal do Noroeste e demos a volta pelo autódromo. Fica um breu na ciclovia (a iluminação se limita à pista dos motorizados) e só vimos dois ciclistas passando, além de pessoas fazendo caminhada. Ou seja, ciclovia de lazer.

Ciclovia do Noroeste sem iluminação.

Ao longo da ciclovia, anúncios de apartamentos à venda. Faixa de preço entre R$ 490 mil (1 quarto) e R$ 10,2 milhões (cobertura). O bairro é novo, tido como sustentável. Lembro que, no período de lançamento, foi anunciado como o 1º bairro ecológico do país. Mas curiosamente os moradores têm o carro como praticamente a única opção de deslocamento, a mais poluente e com mais impactos negativos à cidade. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), 96% dos deslocamentos para o trabalho são feitos por automóvel.1   

No início do bairro, a ciclovia termina sem aviso prévio. O jeito é continuar pelo ‘caminho de rato’, gramado estreito na lateral da via com marcação bem evidente por onde pedestres e ciclistas passam. Margeamos o autódromo e chegamos à ciclovia da W4 Norte. Breu total na ciclovia, sem outros ciclistas.

‘Caminho de rato’ na saída do Noroeste.

Um morador do Noroeste que trabalhe no Palácio do Buriti (a 1,8 km de distância da entrada do bairro) ou um jovem que estude no CEUB (a 2 km de distância da entrada do bairro) muito provavelmente usa o carro no trajeto diário.2 Fico pensando se a situação não poderia ser diferente caso houvesse boa infraestrutura para a mobilidade ativa (calçadas, ciclovias e locais seguros de travessia) e linhas regulares de ônibus (inclusive ônibus executivo, com ar-condicionado) para os moradores.

Mas estamos em Brasília e certamente já tem viadutos previstos na região, com o objetivo de melhor escoar a grande frota automotiva.  

__________________________________

1 Dados da PDAD/2021, realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

2 O mapa mostra o traçado com as distâncias do Noroeste à Asa Norte, ao Eixo Monumental e ao CEUB, mencionados no texto. Eis o link do mapa: https://www.google.com/maps/d/edit?mid=1PfkgGNrLPCOUYHsNdkGaHXHsWaAMzKY&usp=sharing

VÍDEO

O vídeo mostra o acesso ao bairro Noroeste, sem infraestrutura para pedestres e ciclistas.



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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