Brasil tinha 2 mil km de trilhos de bondes

Últimos VLTs de São Paulo foram aposentados há 50 anos. E o Rio de Janeiro contava com 660 km de trilhos urbanos. Leia o editorial do Mobilize

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 30 de março de 2018

Bonde da linha Vila Mariana-Santo Amaro, em São Pa

Bonde da linha Vila Mariana-Santo Amaro, em São Paulo

créditos: Foto: Arquivo Carlheinz Hahmann

Nesta semana a cidade de São Paulo lembrou a morte (prematura) de seu sistema de bondes. A última viagem da última linha foi realizada em março de 1968 na linha Vila Mariana-Santo Amaro, zona sul da cidade. Boa parte dos trilhos ainda está nas ruas, sob o tapete asfáltico onde se arrastam, como lesmas, os automóveis. E surgem, teimosos, quando o asfalto se desgasta.

O processo de desativação dos coletivos elétricos ocorreu mais ou menos simultaneamente em cidades de todo o Brasil: Porto Alegre, Campinas, Santos, Sorocaba, Pelotas, Rio de Janeiro, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador, Maceió, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Manaus e Belém, além de  várias outras capitais e cidades médias.

Em 1948, o Anuário Estatístico do IBGE registrava 2.139 km de trilhos de "carris" em todo o Brasil. Na época, a cidade do Rio de Janeiro dispunha de 660 km de trilhos de bondes, e São Paulo  - que chegou a atingir 700 km, segundo alguns pesquisadores  - contava com 250 km. 

                    Facsímile do Anuário IBGE de 1948

Considerados ultrapassados ("atrapalhavam o trânsito rápido dos automóveis"), sem investimentos para manutenção, os bondes foram deliberadamente substituídos por largas avenidas, carros e ônibus. Foi uma escolha, uma má escolha, hoje sabemos. Os bondes não emitem fumaça, geram menos ruído e têm trajetórias previsíveis, com  menor risco para outros veículos, pedestres e ciclistas. 

Cidades como São Francisco, Melbourne, Lisboa, Roma, Milão, Amsterdã, Berlim e São Petesburgo mantiveram seus antigos sistemas de trams e incorporaram novos carros às suas frotas, já no conceito de VLTs. Em Milão, os mesmos velhos bondes dos anos 1950 ou 1960 circulam junto de modernos VLTs computadorizados. 

Outras cidades, como Los Angeles e Houston, Paris, Porto, Dublin, Barcelona, Buenos Aires e Medellin estão reincorporando os trilhos às ruas como sistemas de transporte alimentadores de metrôs e ferrovias urbanas.

No Brasil, a retomada dos bondes elétricos tem sido lenta. Cuiabá (MT) é o exemplo mais triste, com o cenário das obras paradas desde 2014 e composições abandonadas no pátio de manobras. Há outros projetos iniciados e abandonados, como os de Brasília e Manaus, prometidos também para a Copa de 2014, ou de Goiânia (GO), que substituiria um de seus mais antigos corredores de ônibus.

No Rio de Janeiro, o VLT Porto Maravilha funciona bem para conectar o Terminal Rodoviário ao Aeroporto, passando por todo o Centro da cidade. O bonde circula lotado nos horários de pico, com passageiros de todas as classes sociais, mas ainda assim sofre críticas por não atender às áreas mais carentes da capital fluminense.

Em Santos (SP), a nova linha de VLT foi implantada sobre a faixa ferroviária da antiga Estrada de Ferro Sorocabana e liga a cidade portuária à vizinha São Vicente. Sinal de sucesso, os prefeitos de outros municípios da região, como Praia Grande e Mongaguá já pedem a extensão do sistema. Agora, Sorocaba (SP) e Salvador (BA), anunciam projetos de novos VLTs, ambos sobre antigos trechos ferroviários.

Infelizmente para os paulistanos, não há nenhum projeto de VLT em Sampa. Aos saudosistas, recomendamos aproveitar o feriado e visitar o Museu do Transporte de São Paulo, que tem uma interessante coleção de bondes, ônibus e trolebus herdados da Light e da antiga CMTC. 

 

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