Para driblar o trânsito, que tal correr?

Pesquisadora fala de sua experiência com a corrida urbana, solução criativa, econômica e de bem-estar. Mas, antes de disparar por aí, leia as dicas da corredora

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Silvia Stuchi Cruz*  |  Postado em: 27 de fevereiro de 2015

Sílvia e um amigo usando a cidade para a prática d

Sílvia e um amigo usando a cidade para a prática da corrida

créditos: Paulo Pampolin

 

Como é sabido, comprar um carro não é um investimento barato (especialmente no Brasil) e, tampouco, sua manutenção. Combustível, IPVA, seguro, estacionamento etc. - se colocarmos tudo no papel, fica difícil fechar a conta no final! 

 

Todos os anos são batidos recordes e mais recordes de congestionamento... O transporte público, embora tenha melhorado com medidas como o corredor de ônibus, ainda está muito aquém de ser considerado um serviço público universal e de qualidade. Perdemos tempo, saúde e dinheiro com um sistema voltado ao transporte individual. 

O tempo de deslocamento gasto associa-se diretamente ao bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos, uma vez que, ao se perder mais tempo nos deslocamentos diários, diminui-se o tempo dedicado a práticas esportivas e de lazer.

 

Correr, para ganhar tempo!

Há três anos uso a corrida como meio de transporte para o trabalho e outros compromissos. Foi a forma que encontrei para otimizar tempo e, assim, continuar treinando. Antes de aderir a esta nova rotina, para percorrer quase 8 km utilizando transporte público, levava cerca de 1h20 (trajeto e baldeações). Se tivesse carro, impossível saber o tempo exato. Correndo, levo 45 minutos! 

 

Para contextualizar, a velocidade média de um corredor de rua amador pode atingir entre 8 e 13 km/h. Já a velocidade dos veículos nos horários de pico (manhã e noite), de acordo com as medições da CET, varia de 7 a 15 km/h (números espantosos, não?). 

 

O lado econômico também é destacado: economizo com transporte público cerca de R$ 150,00/ mês.  Além dos benefícios imensuráveis, como o prazer da liberdade de ir e vir, sem estresse, sem enclausuramentos, sentindo o vento agradável no rosto. Nem a chuva atrapalha, ao contrário, refresca quando cai e lava a alma! 

 

Sou pesquisadora em meio ambiente e não tenho uma agenda semanal fechada. Vou encaixando a corrida em minha rotina de um modo muito simples: (i) para a universidade mais perto de minha residência – cerca de 8 km - vou e volto correndo; (ii) já à universidade mais distante – 40 km – vou de transporte público e, na volta, desço no centro da cidade e encerro o trajeto correndo; (iii) nos dias que dou aulas em uma universidade próxima à Avenida Paulista, por se tratar do período noturno, vou correndo e volto de metrô. 

E assim vai... 

 

Importante ressaltar que não sou atleta profissional (e nem pretendo ser - risos). Sou uma pessoa “comum” que opta por se deslocar por meio da corrida.  

 

Quando chego aos locais e digo às pessoas que usei minhas próprias pernas para me locomover, as reações são diversas. Vão desde “nossa, que fantástico” até “nossa, você é louca”. Aos que acham loucura, sim, existem riscos: problemas nas calçadas, cruzamentos, iluminação, sinalização, falta de segurança etc. Contudo, se esperarmos as perfeitas condições para realizarmos alguma mudança em nossas vidas, dificilmente sairemos do lugar, certo?

 

Sílvia Cruz na volta para casa: a liberdade de quem corre! Foto: Corridaamiga  

 

Tá bom! Mas... E como você faz? As pessoas não percebem que você chegou correndo? Qual a logística? 


Vamos lá, seguem algumas dicas: 


1) Organize a mochila, levando o mínimo possível. A minha pesa uns 2 kg, contendo geralmente: roupas de tecido que não amassam; sandálias; bolsinha com desodorante, hidratante corporal e creme para pentear em frascos pequenos, kit básico de maquiagem, toalha de rosto (pode substituir por fralda de pano que é mais leve), celular, carteira com documentos pessoais, pote plástico com frutas. 

 

2) Coloque sempre tudo em sacolas plásticas. Conserva e organiza melhor os itens que está levando além de proteger da chuva.

 

3) Quem não tem vestiário no trabalho (ou o 'Aro 27 Bike Café' e o 'Dress Me Up' por perto) vale fazer um “banho de gato”. Umedecer uma toalha de rosto e lenços umedecidos garantem a higiene. Caso não se acostume com a ideia, realize somente o trajeto de volta para casa e vá de transporte público, carona, táxi...

 

4) Trajeto: planeje e estude bem as alternativas de rotas antes de sair de casa. Não necessariamente fará correndo o mesmo trajeto que realiza de carro. 

 

5) Chegue, no mínimo, 30 minutos antes do seu compromisso. É um tempo suficiente para resfriar o corpo, descansar e fazer tudo com calma.

 

Deixar o carro em casa e realizar os deslocamentos diários de outras formas (seja caminhando, correndo, pedalando, patinando, de skate, utilizando transporte público) passa, fundamentalmente, por uma mudança de comportamento e mentalidade (essa ainda é a maior barreira). 

 

Outro fato que pude comprovar de perto: modos de transporte ativo nos despertam outra percepção da cidade, notam-se diferentes paisagens que não são possíveis perceber de dentro dos carros. E isso muda a nossa relação com a cidade, nos aproxima e nos faz querer cuidar mais dela.  

 

Para aqueles que se inspiraram a driblar, ou melhor, a se libertar do trânsito também, fica o convite! 

 

*Silvia Stuchi Cruz é doutoranda pelo DPCT/Unicamp, gestora ambiental pela EACH/USP, e colabora com o Mobilize Brasil. 


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